Inês Nunes, voluntária em inúmeros projetos e missões:

“A minha experiência de voluntariado não está associada a nenhuma organização especifica. Tudo teve início no Colégio de Nossa Senhora do Rosário, no Porto. Para vos explicar tenho que recuar até ao ano de 2006.

Nesse ano o meu primo fez parte de um grupo de voluntários que seguiu em missão para Moçambique, com o mesmo colégio. Foi nesse momento que entendi que também eu gostava de fazer parte de uma experiência como aquela. Comecei a fazer parte de todos os projetos que podia tendo esse objetivo final. Esta aventura que tanto ambicionava é apenas para alunos do 12º ou ex-alunos e eu ainda estava no 5º ano.

Durante os 9 anos em que frequentei o colégio e mais dois quando já estava aqui na faculdade em Lisboa, participei em quase todos os projetos que o colégio propunha.

Com os meus 9 anos, comecei a ajudar na preparação dos kits, que os alunos a partir do 10º ano, distribuíam à noite aos sem-abrigo pelo Porto (leite achocolatado, café, pão com queijo ou fiambre, iogurtes e ainda roupa e produtos de higiene). Foi assim que até ao meu 10º ano ajudei na preparação dos kits e a partir do qual comecei a participar também na distribuição.

Entre o 7º e o 9º ano, fiz ainda parte de um grupo de alunos que ia, uma vez por semana, ao lar de idosos do Pinheiro Manso, perto do colégio. Ajudávamos na distribuição dos jantares, mas sobretudo conversávamos com estas pessoas que muitas vezes estão lá sozinhas, sem família ou amigos para os visitar. Quando saía de lá, não dava para explicar como me sentia! Ouvir as histórias incríveis que tinham para nos contar vezes e vezes sem conta, receber um sorriso apenas daqueles que não se conseguiam expressar de outra forma e ficar com o sentimento de realização quando um deles gostava de nós ao ponto de nos mostrar os seus quartos e os seus bens mais valiosos, que muitas vezes eram fotografias das famílias ou desenhos dos netos.

Já no 10º ano, lembro-me perfeitamente da primeira noite em que fiz a distribuição e não vou mentir, não foi nada fácil! Pela primeira vez, tive contacto com aquelas pessoas que ajudei á distância durante os 5 anos anteriores, mas nada nos prepara para a realidade que encontramos… Pessoas novas, idosas, doentes, famílias inteiras a viver na rua e algumas delas sem o mínimo de condições. Infelizmente, estamos cada vez mais habituados a ver pessoas nas ruas, mas quando perdemos um bocado de tempo para falar com elas e ouvir as suas histórias aí entendemos que podemos perder tudo de um momento para o outro e a nossa perspetiva sobre a realidade altera-se. No entanto, as alegrias que se vivem neste projeto são muitas! A festa que muitos fazem quando nos veem, não só pelo que trazemos, mas também porque sabem que vem um grupo de pessoas dispostas a conversar com eles sem desviar a cara e sem pressa de se ir embora.

No 11º e 12º ano, integrei o projeto RAIZ que consiste em ajudar crianças do bairro social de Ramalde dando explicações e ajudando na realização dos trabalhos de casa. Depois de tudo feito, tínhamos ainda tempo para muita brincadeira, correria, dança, jogos de futebol e até organizávamos festas temáticas como de Carnaval, Halloween, Natal, …

Assim que cheguei ao 12º ano estava ansiosa por finalmente estar quase a realizar o meu sonho quando, devido a situações políticas em Moçambique, o projeto foi cancelado. Fiquei desolada, mas nos anos seguintes, sempre que possível, continuava a ajudar na distribuição dos kits a quem mais precisava, mas nunca desistindo do meu sonho. Já no meu segundo ano da faculdade e já em Lisboa, recebi uma chamada de um professor do Rosário a saber se gostava de integrar o grupo de voluntários que iria fazer o projeto de voluntariado, mas agora em Timor-Leste que não demorei muito a aceitar.

Esta experiência foi sem dúvida a mais marcante e a mais desafiante até ao momento. Pensava que, devido à experiência que já tinha, esta aventura seria mais fácil, mas mais uma vez estava enganada. Nada me preparou para as condições ou falta delas que encontramos lá. O essencial desta experiência, na minha opinião, foi a entreajuda que havia entre os voluntários, uma vez que nos encontrávamos bastante longe de casa e porque era uma aventura nova para todos.

Ficamos na cidade de Zumalai, a 150 km da capital Díli, durante cerca de um mês. Neste período, convivíamos diariamente com crianças desde o 1º até 9º ano. Este país tem duas línguas oficiais, o tétum e o português. Hoje em dia, os mais novos sabem muito pouco da nossa língua o que tornou a nossa missão um desafio maior e foi também onde a nossa ajuda incidiu mais.

Durante as 4 semanas que passamos em Timor, tentamos de manhã ajudar os mais novos no desenvolvimento da nossa língua materna através de aulas de português, música e momentos lúdicos e à tarde os alunos do 7º ao 9 apenas com aulas de português. Fiquei na parte mais lúdica com os mais novos onde a nossa intenção era que, através de jogos (jogo das cadeiras ou o lencinho vai na mão, por exemplo) e danças que implicassem a compreensão de palavras como esquerda, direita, cabeça, joelhos, olhos, entre outros, em que os miúdos pudessem aprender brincando.

Na parte da tarde, dava aulas em conjunto com outro voluntário a uma turma de 8º ano onde tentávamos que o nível básico de português que tinham fosse desenvolvido através de ditados, cópias e diálogo sobre o dia-a-dia ou até mesmo sobre o que ambicionavam ser no futuro. Apesar destas atividades todas, tínhamos ainda tempo para conhecermos as crianças e a comunidade fora das aulas bem como localidades perto de Zumalai.

Já em Lisboa no meu 3º e 4º ano da faculdade, participei na Missão País, em Oliveira do Bairro e Oliveira de Frades, respetivamente. Este projeto consiste em alunos universitários católicos que, durante uma semana entre o 1º e o 2º semestres, se dedicam, a ajudar uma comunidade mais necessitada. Ajudamos nos lares acompanhando não só os idosos, mas também os funcionários, nas escolas ou fazendo porta-a-porta com o objetivo de ajudar no que for preciso, levando ânimo extra a quem vive mais sozinho e isolado.

Na minha perspetiva, acho que vale a pena fazer voluntariado e que é uma experiência bastante enriquecedora, independentemente do tipo de voluntariado que se faça. É muito importante que a decisão de alguém se tornar voluntário seja fundada no intuito de ajudar o próximo e não apenas porque parece bem ou porque toda a gente faz.

Em resumo, posso apenas dizer que faço o que faço pelo gosto de ajudar quem mais precisa e da maneira que precisa. Desde ajudar a fazer os trabalhos de casa até ter uma simples conversa porque não há mais ninguém disposto a fazê-lo. Espero que mais oportunidades e aventuras me apareçam.”

Inês Nunes

21 anos